Residência- Frank Uchoa

Em um dos muitos "guetos" de Bilbao, fica o apartamento de Frank, que assim como seus moradores, não é nada simpático, a falta de pintura e a quantidade de pessoas que se amontoam em seus pequenos apartamentos é uma característica muito comum. Muitos tentam entender como é possível viver em um local como aquele, ruas sujas, tráfico e assalto são comuns, apesar de ter uma renda que o permitiria morar em outra parte da cidade, o Oficial prefere este local como um refúgio particular. Ali poucos cruzam seu caminho e a palavra "Não se meta com o Frank" é comum ouvir por ali.




O apartamento de Frank fica no último andar, é vizinho de "frente de porta" de uma adolescente e sua mãe ( Tereza e Maitê ), onde vez ou outra, ambas o pedem ajuda para algum a fazer doméstico que precisa de uma força masculina. O interior do Apartamento de Frank é simples, pouco arrumado, apesar de tudo ter seu lugar, um ambiente digno de um homem solitário.

Era uma tarde de folga em uma etapa final de Primavera; as temperaturas já se elevavam bastante, e no Gueto as correntes de ar quase se anulavam por conta das obstruções de casas e prédios amontoados.

O odor horroroso da caixa de gordura que estava quebrada no prédio fazia a situação de calor insuportável ficar ainda pior, mas com o tempo, você já estava acostumado a sobreviver com essas interpéries.

Sua tv estava ligada em um canal de notíciário da tarde, mostrava uma manifestação acalorada no Centro de Bilbao da noite passada:



Você tinha pedido uma quentinha e o entregador te trazia o almoço no exato instante.

Frank-Narração

Graças a uma tarde de folga, Frank estava em seu apartamento, seu corpo ainda se recuperava da briga que teve a alguns dias atrás, estava dolorido , mas nada que não fosse rotineiro para o soldado. Estava jogado no sofá, vestido de maneira rotineira, com seu boot, calça tática preta, uma blusa cinza que já havia tido dias melhores, ao seu lado uma grande garrafa de whisky barato,  Frank olhava a tv observando a manifestação que ocorreu no centro. Naquele momento se lembrou de sua esposa, em um rompante, atirou o copo que estava na sua mão, o mesmo bateu na parede ao lado da tv. Levou a mão no seu cenho e respirou fundo.

-Droga.. *Sussurrou para si mesmo*

Ouviu então alguém bater em sua porta, como de costume, levou a mão na sua arma, presa em sua cintura, chegou próximo a porta, ficando de lado, olhou pelo olho mágico rapidamente para verificar se era sua quentinha. Assim que viu pelo olho mágico a figura fora de sua porta, sacou sua arma, encostando-a no meio da porta, e então disse:

-Quem é?

Frank era um homem precavido e devido ao seu trabalho e também os últimos acontecidos em sua vida, precaução nunca era demais. Ficou em silêncio aguardando o possível entregador responde-lo.

Frank como de costume checa para vê se era de fato quem esperava, era um homem de muitos inimigos, mas percebe que sua neurose desta vez não levou a lugar algum, era de fato o entregador.

_Senhor Frank? -respondeu o homem do outro lado da porta em um tom temeroso ao notar que algo se estilhaçou do outro lado da porta- É sua entrega de comida senhor...

Frank-Narração

Frank ao ouvir a voz do entregador, sorriu de canto de boca, abriu a porta o suficiente para que sua comida passasse, em sua mão, ainda encostada na porta, o cano da sua arma se mantinha em direção ao meio da mesma, de modo que pegasse qualquer gracinha do entregador, com a outra, Frank tirou o dinheiro embolado do bolso de sua calça e disse:

-Boa tarde, aqui está!

Frank aguardou que o entregador pegasse o dinheiro e entregasse sua comida, seu olhar era severo como sempre fora e o entregador podia notar, que Frank demonstrava em seus olhos, sinais de quem não dormia tanto quanto deveria, porém, a pura presença do Soldado e do ambiente que se encontravam era opressora demais para permitir que o mesmo comentasse algo.

O entregador estava com o olho arregalado e faz a transação o mais rápido possível para sair logo da presença daquele esquisitão. Sem maiores delongas, sem quaisquer perguntas, o entregador vai embora, emitindo entre os dentes os votos de "Boa tarde".

Ao se virar e olhar novamente para TV, Uchôa nota uma cena que fez seu corpo gelar. Uma mulher se assemelhava a sua ex-esposa, ela estava em um canto a parte da manifestação, fumando um cigarro enquanto observava tudo de perto.

Seria uma pessoa idêntica se não fosse pelo blazer que havia presenteado a ela no último natal. Era ela.


Tudo foi muito rápido e durou cerca de 2 segundos na filmagem, mas o suficiente para fazer seu coração palpitar de maneira disritmada.

Frank-Narração

Ao pegar sua quentinha, Frank apenas acenou com a cabeça para o entregador, tirando a arma da porta e finalmente guardando no coldre em sua cintura novamente. Apenas dizendo:

-Obrigado, fique com o troco...

Fechou então aporta de forma imediata, passando as trancas na mesma de forma ligeira, deu dois passos e fitou a sua TV, foi quando sentiu suas pernas travarem e o seu olho arregalou de forma imediata, a sacola com sua comida, caiu no chão. Sua garganta deu um nó enquanto seu coração disparava.

-Como pode... *Balbuciou incrédulo*


O tempo de paralisação pela imagem, deu espaço a uma corrida até a tv, Frank se jogou de joelhos próximo da mesma, tentando olhar mais de perto a imagem, mas que já não existia mais, desesperado acabou dando alguns socos em cima da mesma enquanto dizia:

-Me mostra de novo, não pode ser! Me mostra!!!*Esbravejou*

Os olhos de Frank lacrimejavam, como de uma criança, seus dentes trincavam em um bruxismo, e sua mente estava confusa o suficiente.Apenas tentava achar uma solução lógica para aquilo:

"Eu devo ter visto errado, não é possível! A falta dela está me fazendo ver coisas!"

Frank bateu em sua própria cabeça com a palmas de suas mãos, tentando tirar alguma lógica daquilo tudo.

Por mais que você tentasse suplantar a imagem e contrariar a lógica, sua mente estava convicta do que viu e nada nem ninguém faria desistir daquilo que viu. Era fato.

Você viu mais cenas em busca da dita imagem, e a câmera até chegou a focar no lado que a moça estava, mas ela já não estava mais lá; nada. O noticiário entra em um novo tópico.

Uchôa se enche de esperança ao mesmo tempo que incrédulo, renegava os fatos. Ela tinha a mesma aparência da época de sua morte, por um lado você agia e pensava feito um louco, mas naquele instante em questão, você não dava mais margem a qualquer coisa racional.

Dona Soraia bate na porta em um tom preocupado:

_Frank meu filho, está tudo bem com você? O que está acontecendo... -Dizia a doce senhora que morava a sua frente, a única pessoa que tinha coragem de bater a sua porta sem sofrer retaliações-

Frank-Narração

Frank estava fora de si, um misto de esperança e loucura invadia sua mente, coisa não muito boa quando se tratava de Uchoa.

...

Frank era um exímio soldado, perito em armas e um excelente atirador, não mesmo com sua mente perturbada, jamais iria ver algo que não existe, ao menos era isso que naquele momento acreditava. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, sua mulher estava viva, talvez seu filho também estivesse, isso lhe dava a esperança de que poderia recomeçar novamente.

....

Frank se pôs de pé quase de forma trôpega, como se naquele momento toda sua força fosse tirada, a sua mão foi ao seu peito, apertando força sua própria camisa, como se tentasse conter seu próprio coração. A voz de sua vizinha lhe recobrou a sanidade, se é que isso era possível e com a voz ainda trêmula disse:

-Está Dona Soraia... Está sim...

Na verdade Frank não sabia se realmente estava, passou a mão nos olhos a fim de limpa-los, obviamente em vão, estava com o rosto coberto por suas lágrimas, seu recurso foi uma toalha de banho que estava jogada no sofá, que passou de forma abrupta no rosto, tentando se recompor, enquanto balbuciava para si mesmo em sussurros:

-Preciso encontrar ela...

-Preciso encontrar ela....

A porta fora batida uma segunda vez por Soraia e Frank gritou novamente:

-Eu estou bem Dona Soraia! A Senhora precisa de algo?!

Obviamente Frank era um péssimo ator, se fosse bom não seria um soldado, dava para notar em sua voz que algo acontecera com ele, de maneira que nada que ele passou, pudesse um dia fazê-lo ficar daquele jeito, sua vizinha tinha a certeza, que algo tirou Uchoa de seu rumo.

Dona Soraia não se dá por vencida em falar com Uchoa.

_Não Senhor Frank, eu acabei de chegar da feirinha e passei por um rapaz assustado; ele disse que um cara estranho da frente do meu apartamento estava quebrando a casa toda e vim perguntar se estava tudo bem.

_Bom... Não quero te atrapalhar... Quando resolver sair, passe aqui em casa, eu comprei caquí e mexerica. Aquela lâmpada que você instalou semana passada já deu defeito, acho que deve ser a droga da fiação velha; estes malditos ratos roem tudo por aqui...

A velha senhora desiste por fim

O som da voz da velha Soraia se afasta conforme sai resmungando da vida, a cena seria hilária se você não estivesse em um estado emocional tão caótico.

...

Agora com o silêncio feito após a saída de dona Soraia, o soldado se vê em uma profunda reflexão. Foram anos convivendo com seus demônios, mas de súbito como em um filme de terror, eles voltam com força total.

Não sabia a quem recorrer, sempre foi um homem sozinho após as desgraças que lhe ocorreram. Mas precisava pensar rápido no que fazer antes que esse mar de loucura lhe engolisse de vez.

Frank-Narração

Frank passa a mão na cabeça ao ouvir Dona Soraia, em um suspiro ele responde:

-OK Dona Soraia, eu depois vou lá e vejo a lâmpada pra senhora novamente ou o que mais precisar.

Uchoa estava perdido, não sabia mais o que fazer, se sente aliviado por Soraia ter ido embora, não saberia como lidar com ela por mais tempo no estado que estava. Se levantou então do chão que estava, checou sua arma, pegou alguns carregadores e sua faca, prendendo-a na bainha, presa ao seu cinto nas costas, fazia isso enquanto pensava:

"Não tenho muito o que fazer a não ser procurar, a notícia é de ontem a noite e vai ser difícil alguém ser encontrado naquela multidão, mas não me custa tentar."

Nesse momento, Frank se recordou de um velho contato que conseguiu do tempo de cadeia, o Nerd Daniel Ramirez, preso por ter invadido uma base militar e vazado informações, quando Frank o conheceu ele estava poucos anos de ser libertado e passava maus bocados na mão de alguns presos, fora libertado antes mesmo de Frank. Frank o ajudou na cadeia então ele devia a Uchoa.

-Talvez aquele Nerd possa me ajudar, hora de eu cobrar os favores que fiz...


Frank então, assim que teve certeza que estava tudo ok, saiu pela porta de seu apartamento, trancando-o, seguiria para o  centro, onde havia visto as imagens da manifestação.


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OFF:

Daniel Ramirez é o contato de Frank.

O soldado sai apressado de casa, mas sem esquecer detalhes e artefatos que te manteriam vivos caso fosse necessário. Bate a porta atrás de si e a tranca de maneira devida. Dona Soraia estava em casa de porta aberta, jogava dominó com sua netinha, enquanto saboreava sua tangerina docinha.

A velha nada diz, mas a neta corre para a porta que estava entreaberta para te acompanhar com o olhar. A bela menina parecia nutrir algum tipo de sentimento maior que carinho por você, talvez fosse uma paixonite de adolescente.

Enfim chega ao seu Dodge Charger do ano de 1970 que sempre ficava parado frente ao prédio. Você se pergunta por que ele nunca foi roubado, mas muita coisa ruim falam de você aqui e ali, então lidar com um monstro irritado como você, pode não ser lá tão agradável.

O trânsito a essa hora não era dos melhores, mas você consegue com um pouco de paciência contornar tudo.

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Frank-Narração

Frank seguiu pelos corredores, ao passar em frente ao apartamento de Dona Soraia, Uchoa apenas fita rapidamente, se contendo a apenas a isso.

....

Ao chegar ao seu carro, entrou no mesmo, bateu a porta com certa força devido a sua irritabilidade. No trânsito, sua paciência foi testada diversas vezes, alguns socos no volante foram o suficiente para por seu estresse para fora.


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